domingo, 28 de julho de 2019

Augusto dos Anjos, consciência ref. animais

https://vegazeta.com.br/augusto-dos-anjos-e-a-consciencia-vegetariana/



Augusto dos Anjos foi um dos primeiros escritores brasileiros a abordar a consciência vegetariana em suas obras (Pintura: Flávio Tavares)

O paraibano Augusto dos Anjos, por vezes qualificado como simbolista, parnasiano e pré-modernista, era na realidade um poeta solitário que pouco se via no contexto de qualquer corrente literária. Assim como muitos outros artistas, sofria com o anacronismo em relação às suas obras, poemas que fundamentados num tipo peculiar de panteísmo místico já externavam uma conexão entre o homem e a natureza, algo pouco compreendido até o seu falecimento precoce, aos 30 anos.
Embora não haja registros sobre os hábitos alimentares de Augusto dos Anjos, não há dúvidas de que ele foi um dos primeiros escritores brasileiros a abordar a consciência vegetariana em suas obras. Ou seja, foi muito além da escatologia, da consciência da morte enquanto tema.
Sofredor é o termo coloquial que melhor define a essência do poeta paraibano que raramente se via livre da cefaleia e do desconforto existencial. Dotado de exímia sensibilidade, Augusto dos Anjos cristalizava suas insatisfações, anseios e observações com a mesma angústia do simbolista francês Arthur Rimbaud. E talvez esse fosse o maior indicativo de que ele era humano, demasiado humano, como no conceito criado e publicado por Nietzsche em 1878.
Educado em casa pelo próprio pai, um profícuo homem das letras, Augusto se identificou na infância com a linguagem das ciências naturais, o que o motivou a criar seus primeiros sonetos aos sete anos. “Desde a mais tenra idade me entreguei exclusivamente aos estudos, relegando por completo tudo quando concerne ao desenvolvimento, numa atmosfera de rigorosíssima moralidade, da chamada vida física”, disse o poeta em entrevista concedida a Licinio Santos em 1912 e publicada no livro A Loucura dos Intelectuais em 1914.
E o rigor moral realmente acompanhou o escritor ao longo de toda a sua vida. A maior prova são seus poemas publicados na obra póstuma Eu e Outras Poesias, lançada por iniciativa da Imprensa Oficial do Estado da Paraíba em 1920. No livro, sua consciência da relação dissonante da humanidade com a natureza é apresentada de forma ácida e veemente. Em À Mesa, a mórbida ironia revela a leviandade e a consciente cumplicidade humana no ato de se alimentar de animais.
(...)
No bucólico Engenho do Pau D’Arco, em Sapé, sua cidade natal, Augusto dos Anjos chegou a conduzir sessões de mediunidade. Ainda assim, ele jamais se viu como um religioso. Muito pelo contrário. Suas obras sempre abordaram de forma satírica as mais pertinentes contradições que permeiam o cristianismo. No entanto, isso nunca o impediu de se identificar com o panteísmo, assim como o célebre e também incompreendido poeta inglês William Blake.
Quem sabe o escritor paraibano tenha sido atraído pelo fato de que a doutrina se baseia no reconhecimento de Deus em tudo que compõe a natureza. E a partir dessa influência, Augusto fez cabais associações entre a tradição mística do ocidente, o cientificismo que o acompanhou por toda a vida e a cultura oriental fundamentada em religiões védicas da Índia. Esse hibridismo e a constante busca pela sabedoria provavelmente tinham relação com a sua ânsia por entender o mundo, os seres humanos e sua relação com todas as formas de vida.
Exemplos de sua aspiração transcendental são os poemas O Meu Nirvana e Budismo Moderno, publicados no livro Eu, de 1912. Extremamente sensível, Augusto dos Anjos se empenhou em encontrar em fontes orientais um amenizador para a inquietude que o atormentava. “Sinto uma série indescritível de fenômenos nervosos, acompanhados muitas vezes de uma vontade de chorar”, confidenciou em entrevista a Licinio Santos. E foi essa emotividade à flor da pele que o motivou a escrever A Um Carneiro Morto, de 1909, que fala da desproporcionalidade entre a empatia animal e a truculência humana.
Alimentado com leite de escrava na infância, Augusto dos Anjos não se orgulhava de sua herança fundamentada no patriarcalismo rural. Cresceu desinteressado pela socialização, o que garantiu-lhe o apelido de “O homem ausente”. Importantes nomes da literatura brasileira, como Orris Soares e José Américo de Almeida, o descreviam como um sujeito de tez pálida e morena, mais alto do que baixo, franzino e recurvo, de fronte alongada e grandes olhos sem mobilidade. Suas mãos eram moles e denunciavam timidez. Andava como se estivesse sempre na ponta dos pés, e de longe sua magreza excessiva chamava atenção pelo aspecto insalubre. E nada disso parecia-lhe relevante, talvez até insignificante, já que para além do trabalho ele vivia imerso em si mesmo e na própria poesia. Em A Obsessão do Sangue, Augusto dos Anjos discorre sobre a barbárie consentida entre o açougueiro e o consumidor que se excita diante da carne a ser servida.
(...)
Graduado em direito, o poeta jamais atuou como advogado. Preferiu o magistério e se tornou professor no Liceu Paraibano. Se casou em 1910 e logo mudou-se para o Rio de Janeiro, onde lecionou na Escola Normal e Ginásio Nacional. O salário era tão modesto que ele mal conseguia sustentar a família. Ainda assim, prosseguia escrevendo, dando vazão à sua vocação. No poema Monólogo de Uma Sobra, Augusto dos Anjos reafirma sua crença na relação entre a solidariedade, o cosmo e o misticismo. Em um excerto, ele escreveu:
 E o animal inferior que urra nos bosques
É com certeza meu irmão mais velho!
Depois de quatro anos, e atendendo à recomendação médica, o poeta migrou para Leopoldina, em Minas Gerais, com a esposa Ester Fialho e os dois filhos. Lá, exerceu o cargo de diretor do Grupo Escolar até que faleceu em 12 de novembro de 1914 em decorrência de pneumonia.
Na área em que estou, ao matinal assomo,
Passa um rebanho de carneiros dóceis…
E o Sol arranca as minhas crenças como
Boucher de Perthes arrancava fósseis,
escreveu Augusto dos Anjos em Estrofes Sentidas, poema que na minha opinião sintetiza sua empatia por todos os seres vivos, mesmo diante da própria finitude extemporânea. 
Saiba Mais
Augusto dos Anjos nasceu em 20 de abril de 1884 em Engenho do Pau D’Arco, em Sapé, na Paraíba.
Eu, seu único livro de poesia publicado em vida, foi lançado no Rio de Janeiro em 1912.
Os escritores preferidos do poeta eram William Shakespeare e Edgar Allan Poe.
Referências
Dos Anjos, Augusto. Eu e Outras Poesias. Bertrand SP (2001).
Santos, Licinio. A Loucura dos Intelectuais (1914).
Figueiredo, José Maria Pinto. A invenção do Expressionismo em Augusto dos Anjos. Universidade Federal do Amazonas (2012).
Paes, José Paulo. Augusto dos Anjos ou o evolucionismo às avessas. Novos Estudos (2008).
Viana, Chico. Autobiografia e lirismo em Augusto dos Anjos (2007). Disponível em chicoviana.com.
Erickson, Sandra, S. F. Augusto dos Anjos: Budismo Moderno. XVII Anais: Semana de Humanidades. UFRN (2010).
Nóbrega, Humberto. Augusto dos Anjos e sua época. João Pessoa, Edição da Universidade da Paraíba (1962).

sábado, 20 de julho de 2019

"Sapiens" / gatos, carnívoros

Os leões, guepardos, gatos domésticos, são gêneros da mesma família, a família dos felideos.
Os lobos, raposas, chacais, são da família dos canídeos.
Os elefantes, os mamutes, os mastodontes, são da família dos elefantideos.
Todos os membros de uma mesma família remontam a um mesmo patriarca ou matriarca original. Todos os gatos, por exemplo, dos menores gatos domésticos ao leão mais feroz, têm em comum um ancestral felideo que viveu há cerca de 25 milhões de anos.
(in 'Sapiens', Cap. -Sapiens, um animal insignificante-)


sexta-feira, 19 de julho de 2019

Dr. Jane Goodall: "Every animal is an individual."

https://m.youtube.com/watch?v=USAHgBX4P48
"O Homo Sapiens também pertence a uma família. (...) Gostemos ou não, somos membros de uma família grande e particularmente ruidosa chamada grandes primatas.
Nossos parentes vivos mais próximos incluem os chimpanzés, os gorilas e os orogotangos. Os chimpanzés são os mais próximos. Há apenas 6 milhões de anos, uma fêmea primata teve duas filhas. Uma delas se tornou a ancestral de todos os chimpanzés; a outra é nossa avó."
(in 'Sapiens', Cap. -Sapiens, um animal insignificante-)

crianças veganas

https://vegazeta.com.br/mayim-bialik-e-possivel-criar-criancas-veganas/
https://vegazeta.com.br/bronson-alcott-se-nenhum-alimento-de-origem-animal/

Alcott: “Se nenhum alimento de origem animal fosse consumido, um quarto da terra usada seria suficiente para o sustento humano”

A citação acima faz parte de uma carta escrita pelo filósofo e pedagogo Amos Bronson Alcott em 1843
“Calcula-se que, se nenhum alimento de origem animal fosse consumido, um quarto da terra agora usada seria suficiente para o sustento humano. E os vastos caminhos agora apropriados pelas pastagens, cortes e outros modos de provisão para animais poderiam ser aproveitados de forma mais inteligente e afetuosa.”
O trecho acima faz parte de uma carta escrita pelo filósofo e pedagogo Amos Bronson Alcott em 1843, publicada na obra “The Letters of A. Bronson Alcott, de Richard L. Hernstadt, lançada pela Editora da Universidade Estadual de Iowa em 1969. Bronson Alcott foi um homem bastante influente em seu tempo, tanto que entre seus amigos e admiradores estavam personalidades como Herman Melville, Walt Whitman, Nathaniel Hawthorne, Henry David Thoreau, Ralph Waldo Emerson e Margaret Fuller,
Pai da escritora Louisa May Alcott, ele se tornou vegetariano estrito em 1835 e possivelmente por influência do filósofo grego Pitágoras. Além de defender o fim da escravidão humana, também defendia o abolicionismo animal quando ainda não existia formalmente a teoria dos direitos animais. Supostamente, o filósofo acreditava que não era justo lutar por uma causa e ignorar a outra.
Bronson Alcott também defendeu os direitos das mulheres, e acredita-se, segundo John Davis, que ele se tornou “vegano” aos 42 anos em 1842: “Ele expandiu seus pontos de vista antiescravidão, incluindo animais não humanos.” Após uma viagem internacional, ele regressou aos Estados Unidos e decidiu criar uma comunidade livre da exploração animal.
Em maio de 1843, Amos Bronson Alcott fundou em Harvard, Massachusetts, a Fruitlands, uma comunidade “vegana” que se situava em uma área de 90 acres, o equivalente a 360 mil metros quadrados. A propriedade foi comprada em parceria com o reformador educacional inglês Charles Lane. A comunidade não durou muitos anos, mas a sua história foi preservada e o espaço ainda é aberto aos visitantes.
Referências
Herrnstadt, Richard L., ed.  The Letters of A. Bronson Alcott.  Ames: Iowa State University Press, 1969.